terça-feira, 10 de julho de 2012
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COMO COMEÇOU O MOVIMENTO DE REFORMA NA ALEMANHA
Extraído de:
Orlando G. de Pinho, Uma Luz que Alumia, São Paulo: Associação Paulista, 1976.
Este material foi publicado juntamente com o irmão Adalberto Simon, membro da Reforma por 40 anos.
A verdade dos fatos ocorridos
Relato histórico feito pelo Pr. R. Ruhling (Adventista) a D. Nicolici
(Reformista), em carta de 18 de julho de 1957. O Pr. Ruhling foi um dos secretários
de campo da AG em 1947. Uma cópia da referida carta foi enviada pelo Pr. Moysés
Nigri à Associação Paulista da IASD, e foi traduzida pelo Pr. Luiz Waldvogel.
“Prezado irmão Nicolici:
Algumas semanas atrás recebi vossa carta-circular impressa, com data de abril
de 1957, e penso que devo responder àquela parte quanto à qual estou absolutamente
habilitado a fazê-lo, isto é, sobre a origem do vosso movimento. Parece-me que se
trata de uma questão muito vital.
Fui secretário da União Este-Alemã, localizada em Berlim, de 1913 em diante.
Em 1920, por ocasião da discussão em Friendensau, anotei em taquigrafia tudo que
foi dito por ambas as partes e posteriormente o publiquei. E eu conhecia
pessoalmente as várias pessoas que iniciaram aquele movimento, assim como a
maioria dos líderes que se seguiram.
Na direita superior de vossa carta-circular acha-se impresso: “Originado em
1914”, e no segundo parágrafo publicastes o seguinte: “... Não foi senão por ocasião
da crise da primeira Guerra Mundial, em 1914, que se revelou claramente a
apostasia”. E, em vossa carta de 10 de maio de 1954, na pág. 3, dizeis de novo: “O
Movimento de Reforma, que veio à existência em resultado da crise que defrontou o
povo do Advento em 1914...”. Aqui dais o ano de 1914 como o princípio de vosso
movimento. Concluo que repetis isto por causa da declaração muito reiterada por
essas pessoas, sem conhecer os fatos.
Permiti que aqui vos diga francamente, como tenho muitas vezes feito, de viva
voz e pela pena, que isto é absoluta inverdade. A primeira Guerra Mundial rompeu
em 3 de agosto de 1914. Mas não havia, entre os membros da Igreja Adventista do
Sétimo Dia da Alemanha, absolutamente nada de opiniões divididas, quanto a
deverem ou não os irmãos participar da guerra. Este fato refuta também vossa
sentença: “A minoria que se opôs a esse compromisso dos líderes foi excluída da
igreja”. Isto é absolutamente inverídico. Acerca dos que foram excluídos escreverei
depois, mas deixai que prossiga...
Como disse, a Guerra iniciou-se em agosto de 1914. Passaram-se os meses de
agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro. Isto são 5 meses, mas em parte
alguma houve diferença de opinião, nada de protesto, nem perturbação, nem disputa e
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nenhuma cisão em nenhuma de nossas igrejas, acerca dessa questão. Esse movimento
de reforma começou no princípio de janeiro de 1915, e surgiu sobre uma questão
inteiramente diversa, isto é, a visão que algumas pessoas alegavam ter recebido
acerca do fim do tempo da graça. Assim, repito: quando o chamado movimento
alemão de reforma começou, ela não envolvia a questão do porte de armas ou de
participar da guerra.
Dois membros leigos, conhecidos meus: J. Wick e o irmão Czukta, foram, com
muitos de nosso membros da igreja, recrutados para o exército alemão e mandados a
Berlim, para o treino básico. Aí esses dois homens recusaram deixar-se vacinar e
foram mandados para a prisão militar por 7 dias. Enquanto na prisão militar, J. Wick
afirmou ter tido uma visão, que ele escreveu e mandou para nossa casa publicadora
em Hamburgo, como o pedido de que fosse publicada em nosso órgão da igreja. A
casa publicadora recusou-se a publicá-la.
Quando esses dois homens foram soltos da prisão, desertaram do exército e
foram a Bremen, onde encontraram refúgio com o ancião da igreja. J. Wick coletou
dinheiro para publicar particularmente sua visão, e mandou um exemplar a quase
todos os membros da igreja e ministros da Alemanha. Afirmava ter recebido a visão
em 11 de janeiro de 1915 - visão na qual lhe foi mostrado que quando as árvores de
frutas de caroço (cerejas, ameixas, etc.) florescessem, na primavera (abril-maio),
terminaria o tempo de graça. Afirmava ter-lhe também sido mostrado que deveria
relatar sua visão aos irmãos líderes e, se não a aceitassem, estariam apostatados.
Aqui, acentuo novamente, nada havia nessa chamada visão, lida por mim
muitas vezes, acerca da guerra ou de nela participar. Tinha que ver tão-somente com
o fim do tempo da graça.
Os irmãos líderes na Alemanha declararam que essa visão ou era imaginário,
ou de Deus, ou do diabo. Visto como se demonstrou não ser verdadeira, por certo que
não era do céu, de maneira que se conclui ter sido ou imaginário ou do diabo. Este foi
o início do “movimento de reforma”.
Por esse tempo várias outras pessoas também afirmavam ter tido visões. Uma
delas, a irmã Kersting, membro leigo, afirmava ter tido, em fevereiro ou março de
1915, uma visão na qual recebera comunicação de que o tempo da graça terminaria
quando das árvores de frutas de caroço florescessem. Uma tal sra. Ziegler, também
membro leigo, declarava ter tido uma visão. Um ou dois outros também anunciaram
ter tido visões. Uma irmã, membro leigo, pertencente à igreja de um subúrbio de
Berlim, relatou à igreja a sua visão. Os membros da Comissão da Associação foram
falar com ela. Na entrevista disse ela que outrora praticara coisa como as de que trata
o chamado sexto e sétimo livros de Moisés (livro de fórmulas mágicas que
circulavam na Idade Média), e que, em resultado do que aprendera nesse livro, fora
ela capaz de realizar algumas curas. Estes chamados profetas, é evidente não tinham
então contato mútuo, e portanto não começaram a trabalhar em conluio uns com os
outros.
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A primavera de 1915 veio e as árvores floresceram. E nada aconteceu. Durante
todo este tempo, na se disse acerca do porte de armas. A questão suscitada dizia
respeito à terminação do tempo de graça.
Os dois desertores do exército foram presos e condenados a cinco anos prisão.
O sr. Czukta faleceu na prisão. Quando o sr. Wick foi libertado, não continuou com
os chamados “reformadores”. Os outros falsos profetas arrebanharam simpatizantes
em vários lugares, como Berlim, Bremem, Hamburgo, Munique, etc. Renegaram
nossos irmãos líderes, porque não aceitaram como vindas de Deus as mensagens que
eles pretendiam ser de Deus. Apenas passado o tempo do florescimento, em 1915,
novas declarações foram, pelos falsos profetas, espalhadas quase semanalmente,
estabelecendo o dia 10 de maio de 1915 como data da terminação do tempo de graça.
Passada esta data, marcou-se outro tempo. Mudaram suas datas cinco ou seis vezes.
Isto habilitou nossos irmãos a ver a insensatez de crer nestes falsos profetas.
Então aconteceu algo diferente. Na Saxônia nossas igrejas foram fechadas e
fomos proibidos de realizar reuniões.
Quando rompeu a guerra, em agosto de 1914, o Pr. H. F. Schuberth fez ao
governo alemão, em Berlim, declaração de que nossos irmãos haviam sido
aconselhados a portarem armas na guerra. E no princípio do verão de 1915 foi pelos
pastores L. R. Conradi, H. F. Schuberth e P. Drinhaus apresentada ao governo alemão
uma segunda declaração acerca do porte de armas. Nela se fazia referência à
declaração do Pr. Schuberth no ano anterior. Em resultado disso, suspendeu-se a
interdição de nossa obra na Saxônia.
Os fanáticos conseguiram um exemplar do documento que esses irmãos
apresentaram ao governo e usaram-no para fomentar rebelião contra os líderes de
nossa obra na Alemanha. Nenhum obreiro empregado da denominação tomou parte
nisso. Um dos líderes da facção rebelde foi um tal sr. Richter, outrora ancião da igreja
de Bremem. Eles - os fanáticos - começaram a denunciar a igreja como tendo caído e
se tornado Babilônia, e insistiam com os irmãos, particularmente com os seus
simpatizantes, a que saíssem de nossas igrejas. Foi nesse tempo que os chamados
“reformadores” começaram a assumir a atitude de que nossos irmãos não deviam
portar armas na guerra. Organizaram-se grupos que se reuniam à parte. Seus líderes
viajavam de um lugar a outro. Alguns de seus seguidores recusavam-se a atender à
convocação para o serviço militar. E quando alguns de nossos irmãos, consultados
pela polícia, disseram o que deles sabiam, os “reformadores” clamavam que estavam
sendo perseguidos pela denominação. Começaram a propagar seus pontos de vista em
publicações impressas.
Tanto quanto me possa lembrar, nenhum de nossos ministros ordenados, na
Alemanha, se uniu a essa rebelião “reformista” durante o período de guerra.
Terminada a guerra, em novembro de 1918, alguns ministros jovens, não
ordenados ainda, uniram-se aos “reformadores”. Um deles foi Henry Spanknöbel,
com seu irmão Karl Spanknöbel. Mais tarde, quando surgiram na Alemanha os
nazistas, Henry se lhes uniu. Os nazistas enviaram-no, com uma missão especial, aos
Estados Unidos. Quando se suspeitou de que o FBI estivesse à procura de Henry, o
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embaixador alemão em Washington ocultou-o e o mandou a Nova Iorque, de navio, e
dali para a Alemanha. O FBI vasculhou o navio mas não o encontrou.
Os dois irmãos tornaram-se preeminentes e ativos como primitivos líderes do
“movimento da reforma”. Henry era orador eficiente. Ambos - ele e Karl - serviram
no exército alemão na Primeira Guerra, e só depois da guerra é que se uniram ao
“movimento”. Henry desapareceu misteriosamente e seu paradeiro é desconhecido.
Karl está agora [em 1957] nos Estados Unidos e atribui-se a si mesmo o título de
“Nobre”. Um sobrinho seu, Pr. J. N. Noble é um dos nossos ministros em Dacota do
Sul.
De 21 a 23 de julho de 1920 realizou-se em Friendensau, Alemanha, uma
reunião à qual assistiram líderes da Associação Geral, como os pastores A. G.
Daniels, F. M. Wilcox, M. E. Kern, L. H. Christian. Foi quando o Pr. Christian
assumiu seus deveres de presidente da Divisão Européia, tendo sido eleito a esse
posto, na sessão prévia da Associação Geral.
O líder dos “reformadores” era então o sr. Dörschler, que fora anteriormente
ancião de uma de nossas igrejas, mas não obreiro denominacional. Instalaram sua
sede central em Würzburg, sul da Alemanha, onde imprimiram suas publicações.
Tinham denunciado a obra da Cruz Vermelha como sendo do diabo, e isto admitiram
na reunião de Friendensau, porque nós havíamos aconselhado nossos homens a
servirem no corpo médico durante a guerra.
O Pr. Daniells e seus associados da AG trataram instantaneamente com os
irmãos dissidentes, procurando reavê-los. O Pr. Daniells explicou com muito cuidado
nossa posição denominacional na questão do porte de armas em tempo de guerra. Foi
também explicado que os líderes de nossa obra na Alemanha havido cometido um
erro em aconselhar nossos irmãos a portarem armas na Primeira Guerra. Depois de
haverem ouvido a explanação da atitude denominacional assumida por nossos irmãos
quanto ao assunto, os líderes de nossa obra na Alemanha de pronto reconheceram
haverem errado.
Visto como os “reformadores” em suas publicações nos chamavam de
“Babilônia”, não podíamos por mais tempo tolerá-los em nossas igrejas, e os
excluímos. Qualquer organização teria feito a mesma coisa. Mas, que incoerência.
Primeiro nos chamavam “Babilônia”, da qual deviam sair, e depois, quando os
excluímos, clamavam estar sendo perseguidos pela denominação. Por que não
queriam ser excluídos de “Babilônia”? Ou julgavam poder fazer uma propaganda
mais eficaz enquanto diziam ser membros da igreja?
Agora, tendo-lhe eu escrito esta declaração absolutamente verdadeira, poderei
esperar que mudeis vossas afirmações acerca de 1914?
Porventura, qualquer dos líderes antigos, depois de deixar o “movimento”,
alguma vez repudiou seus atos antigos e confessou seus erros? Permiti que vos dê
uma ilustração: Em 1926, na Assembléia da AG em Milwaukee, encontrei-me com
Karl Spanknöbel, muito meu conhecido, e que fora um dos líderes do movimento.
Disse-me ele: “Irmão Ruhling, estando eu agora nos Estados Unidos e tendo
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aprendido a língua inglesa e começado a ler os Testemunhos, estou convencido de
que não tínhamos razão alguma para nosso movimento de Reforma”. Ora, confessou
ele qualquer de seus erros e arrependeu-se do dano que causou à nossa denominação?
Ou porventura se uniu de novo à igreja? Não. Vive ainda em Detroit mas não é
membro da denominação. Ou porventura os que coletaram dízimos e ofertas de
nossos membros da igreja, alguma vez os devolveram ou confessaram seu erro?
Confessaram jamais o seu erro de em público nos chamarem de “Babilônia”?
Uns dez ou doze anos atrás, numa reunião campal em Lodi, Califórnia,
encontrei-me com um jovem que afirmou saber de tudo o que acontecera na Europa
quanto à origem do movimento ao qual ele pertencia. Perguntei-lhe qual a sua idade.
Vi que em 1914 ele não era nascido, no entanto pretendia saber de tudo. Eu lhe disse
que ele nada sabia. Ou o que sabia, aprendera-o dos falseados escritos de algum dos
“reformadores”. Disse-lhe que devia ir para a casa estudar a Bíblia e os escritos do
Espírito de Profecia, e deixar de pregar falsidades, e aprender a proclamar a verdade.
Assim, se sois sincero, como em vossa carta afirmais, espero muito
sinceramente que haveis de fazer algumas correções, pelo menos, quando publicardes
nova carta-circular.
Muito sinceramente vosso.
R. RUHLING”
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